Viajar para o Hemisfério Norte durante as festas de final de ano pode
ser uma experiência única. Os mercados de Natal, a neve e as festas de
virada têm muito charme e tradição, e compensam as baixas temperaturas
por conta do inverno.
O inverno costuma ser baixa
temporada, exceto em locais onde há pistas de ski e esportes de inverno,
mas inevitavelmente o período que compreende o Natal e o Ano Novo
costuma ser considerado altíssima temporada e a economia em valores
gastos na viagem vai pelo ralo. Também, é um período de grande procura
por viajantes locais e internacionais, o que requer muito planejamento e
um bom tempo de antecedência para garantir a sua vaga.
Em
alguns países, estes mercados de Natal acontecem até uma semana antes
do próprio Natal, com decoração temática, venda de produtos, patinação
no gelo, comidas e bebidas típicas e venda de produtos locais. São "a
atração" da cidade onde eles acontecem. Vale a pena considerar no seu
planejamento (esta é uma frustração que tenho: jamais vi pessoalmente um
destes mercados).
Em 2005 viajamos no dia 23 e a
ideia era chegar dia 24/12 por volta
do horário de almoço e a tempo de ajudar no preparo da ceia. Mas...
nosso voo do meio dia foi cancelado e o próximo voo seria somente às 22
horas. Isso significaria uma longa espera no aeroporto (para a qual não
estávamos preparados) e a chegada no exato momento da ceia de Natal.
Aprendizado 1:
se um voo tem chances de ser desmarcado ou cancelado, pode ter certeza
de que estas chances aumentam muito no período de altíssima temporada e
inverno, vulgo, Natal no hemisfério norte. Esteja preparado para este
tipo de imprevisto.
Felizmente os alemães
comemoram o Natal no dia 25 mesmo, com o almoço, e portanto isso não foi
tão ruim para nossos anfitriões, que acabaram nos esperando para
jantar.
Aprendizado 2: na Alemanha não é usual
fazer a ceia da véspera, mas sim o almoço de Natal no próprio dia 25 (e
os presentes também amanhecem sob a árvore, provavelmente deixados lá
pelo Papai Noel).
Os dias seguintes, com muita neve,
serviram para andarmos pela cidade, pelos parques públicos e áreas
abertas porque neste período tudo fecha mesmo. Até padarias e mercados
(com raríssimas exceções).
Aprendizado 3: em
dia de Natal (25) e no dia seguinte (26) todo o comércio fecha,
inclusive mercados, padarias e lojas de conveniência. Se viajar neste
período, prepare-se para encontrar tudo fechado, inclusive restaurantes.
Portanto vale a pena se informar como é o esquema na cidade onde
estará, ou programar somente passeios que estejam abertos ao público
nestas datas.
A neve é, ao mesmo tempo, linda e
trabalhosa. Exige cuidados não só com as roupas que iremos vestir
(exigindo algumas boas camadas, além de roupas térmicas), mas na maneira
como andamos e nos relacionamos com as atividades ao ar livre (não dá
para caminhar o dia todo), porque o frio é grande e não estamos
acostumados a isso.
Aprendizado 4:
em viagens de inverno, intercale passeios ao ar livre com outros em
lugares fechados e aquecidos (como museus, galerias, castelos e outras
atrações). O frio é cansativo e pode atrapalhar seus planos.
Depois
dos primeiros dias, fizemos uma viagem de carro pela Alemanha, e a
ideia era passar o Ano Novo em Berlin, ficar ali por alguns dias, e
fechar a viagem em Praga. Éramos 4 adultos num carro modelo Opel (tipo o
corsa antes de virar "bolinha") dos anos 80 e com o sistema de
aquecimento comprometido. Portanto viajamos super agasalhados e com
cobertores e edredons para aguentar o frio.
Aprendizado 5: sem aquecimento não dá. É muito ruim e, de novo, o frio é cruel.
A
estrada é ótima e um "tapete" (a famosa Autobahn), muito segura, há
muitos trechos com velocidade sem limite (o que requer um excelente
veículo e muito conhecimento de direção), as paisagens lindas com muitos
locais de parada com banheiros públicos limpos. Há alguns postos com
restaurantes para ajudar e precisa ficar atento aos pedágios na estrada.
São muito bem sinalizadas (na época viajamos com um guia impresso), mas
com a facilidade de um GPS, não tem erro.
Aprendizado 6:
estude bem o seu trajeto. Chegar não precisa ser o seu único objetivo:
inclua algumas paradas. Na pressa de chegar, deixamos de visitar lugares
interessantes, cidades pitorescas e fazer paradas (em Dresden ou
Hamburg, por exemplo) e me arrependo por não ter deixado espaço no
cronograma para isso.
Em Berlin, ficamos num hostel
bacana, e conseguimos fechar um quarto exclusivo no bairro Turco (e
tivemos ótimas experiências nos restaurantes de lá). O importante era o
fácil acesso à rede de 'trams' e metrô. (Mantivemos o carro parado para
não perder a vaga e porque é mais fácil se deslocar de transporte
público pela cidade.)
Fizemos alguns passeios
clássicos (como visitar o muro, Alexanderplatz, a Torre de Televisão, o
Pergamon Museum, o parlamento, a Siegessäule ou Coluna da Vitória - que
ficou famosa pelo filme "Asas do Desejo", o portão de Brandemburgo,
passamos pelo Checkpoint Charlie, o monumento ao Holocausto, e a igreja
Gedächtniskirche). Claro que sempre ficam muitos outros faltando, mas
uma viagem é feita de escolhas e, em grupo, a gente tem que administrar
as expectativas. Foi muito legal, porque estávamos na companhia de um
casal de amigos (um deles alemão) e isso foi muito importante nesta
escolha.
Outra
coisa muito legal: come-se e bebe-se muito bem na Alemanha. Eu já
estive lá muitas vezes e nunca tive o azar de comer alguma coisa ruim.
Pelo contrário. Os ingredientes são ótimos, preços super baratos e as
refeições excelentes, seja na comida de rua (bratwurst ou pretzels),
seja em restaurantes alemães ou de outras gastronomias (a cozinha turca é
um espetáculo também!).
Aprendizado 7: come-se
muito bem, bebe-se muito bem (cerveja e vinho, sobretudo) e gasta-se
pouco na Alemanha. Aproveite para experimentar e conhecer novos pratos,
sabores, experiências (a cozinha tailandesa estava super na moda quando
estivemos lá em 2005/2006).
A
noite da "virada" de ano gera muita expectativa. Para os alemães é uma
das poucas noites em que se pode soltar fogos de artifício. Ainda assim,
não espere nenhuma Copacabana por lá. Assim como no Rio de Janeiro a
festa é na praia de Copacabana, e em São Paulo, na Paulista, em Berlim o
lugar é o portão de Brandemburgo. A festa é pública, realizada pelo
governo local, e atrai milhares de pessoas. Ainda assim, sem
empurra-empurra, sem confusão, no maior respeito e organização. Vale a
pena participar, mas não esqueça de ir bem agasalhado, com sapatos
confortáveis e forrados, e considerar ter um plano B para aguentar o
frio (parece cafona mas é super comum as pessoas levarem a própria
bebida e comida em mochilas, isso salva sua noite). É tudo muito
diferente, mas vale a pena entrar no clima e na festa.
Aprendizado 8:
leve em consideração a baixa temperatura. Vale a pena passar a virada
na rua, vendo os fogos, mas tenha marcado um lugar para ir após isso, já
que o inverno é rigoroso e faz muito frio (no nosso caso estava 9 graus
negativos).
Terminados
nossos dias por lá, seguimos viagem para a República Tcheca debaixo de
uma tempestade de neve como esta da foto acima. Mas isso eu conto em
outro post.
Adorei a experiência e a viagem. Recomendo fortemente, mas leve em conta nossos aprendizados.
Tshuss!